Sentidos Fregeanos e Ideoletos
André Leclerc: UFC/CNPq
27 de Fevereiro de 2014, 16h, ICA-UFC, SALA 101.
Sinopse:
A doutrina fregeana da expressão do sentido (doutrina que tenta explicar o que é, para uma expressão linguística, expressar seu Sinn, seu sentido) é introduzida com bastante naturalidade, através de definições estipulativas, só para estabelecer a terminologia:“Um nome próprio (palavra, signo, combinação de signos, expressão) expressa seu sentido, denota [bedeutet] ou designa [bezeichnet] sua denotação (Bedeutung]. Ao empregar um signo, nós expressamos seu sentido e designamos sua denotação”. (Über Sinn und Bedeutung”).
Frege também diz que o sentido é acessível a qualquer pessoa que tem “familiaridade” com a língua, o que é geralmente interpretado da seguinte maneira: locutores competentes com um bom conhecimento das convenções linguísticas podem apreender o Sinn. O Sinn é objetivo, o mesmo “para todos” –apesar das variações na apreensão do Sinn – e não pode mudar com o tempo, como qualquer outra entidade abstrata. O que pode mudar de um locutor para outro, de uma época para outra, são essas apreensões (Erfassung, graspings), que são atos subjetivos da mente. Isso parece significar que o Sinn associado a palavra grega “arithmoi” é o mesmo que o Sinn associado a palavra “número” hoje, mesmo se os Gregos não tinham a menor ideia do que era um número racional ou um número complexo. Frege tinha visto o problema; ele também dá o exemplo da palavra “inércia”. Aparentemente, pelo menos em muitas ocasiões, não entendemos o que dizemos literalmente, no sentido estrito que a palavra “dizer” tem na obra de Grice. Frege antecipou o problema que se tornou um tópico importante na filosofia das ciências nos anos 70: mudanças no significado dos termos teóricos X progressos científicos. Nos casos mencionados por Frege (“números”, “inércia”), o pior é que um conhecimento das convenções linguísticas atuais não ajuda muito, pois elas não revelam o Sinn na sua totalidade. Só as intuições ou insights de um cientista fora de série (como Einstein para o termo “gravitação”) podem apreender o Sinn de maneira mais completa e explicar o novo sentido (mais completo) para sua comunidade. A noção de um Sinn objetivo, a princípio, foi introduzida para explicar o sucesso da comunicação. Mas finalmente, o que temos de fato, são apreensões subjetivas que podem variar de um indivíduo para outro, de uma época para outra, e que só capturam uma parte do Sinn.
Mas nem tudo está perdido. Frege introduziu a noção de condições de verdade. Ao invés de conceber a compreensão linguística como a apreensão de um pensamento que subsista num terceiro reino platonista, podemos concebê-la como a construção de uma representação das condições que devem ser o caso se a frase compreendida é verdadeira. Tentarei mostrar como, a partir de nossos idioletos, podemos explicar o sucesso da comunicação sem precisar de um terceiro reino. Os únicos sentidos que tenho são aqueles associados às palavras que aprendi a usar. A cada palavra são associadas várias disposições. Quando ativadas, as disposições manifestam uma resposta, um núcleo de sentido que se ajusta à situação atual da fala. O valor semântico da palavra é quase sempre mais rico em contexto. O que é compreendido é o sentido ocasional ou as condições de verdade intuitivas, não um pensamento abstrato independente do contexto.
Entrada livre
Certificado de presença se requisitado
All Welcome
André Leclerc: UFC/CNPq
27 de Fevereiro de 2014, 16h, ICA-UFC, SALA 101.
Sinopse:
A doutrina fregeana da expressão do sentido (doutrina que tenta explicar o que é, para uma expressão linguística, expressar seu Sinn, seu sentido) é introduzida com bastante naturalidade, através de definições estipulativas, só para estabelecer a terminologia:“Um nome próprio (palavra, signo, combinação de signos, expressão) expressa seu sentido, denota [bedeutet] ou designa [bezeichnet] sua denotação (Bedeutung]. Ao empregar um signo, nós expressamos seu sentido e designamos sua denotação”. (Über Sinn und Bedeutung”).
Frege também diz que o sentido é acessível a qualquer pessoa que tem “familiaridade” com a língua, o que é geralmente interpretado da seguinte maneira: locutores competentes com um bom conhecimento das convenções linguísticas podem apreender o Sinn. O Sinn é objetivo, o mesmo “para todos” –apesar das variações na apreensão do Sinn – e não pode mudar com o tempo, como qualquer outra entidade abstrata. O que pode mudar de um locutor para outro, de uma época para outra, são essas apreensões (Erfassung, graspings), que são atos subjetivos da mente. Isso parece significar que o Sinn associado a palavra grega “arithmoi” é o mesmo que o Sinn associado a palavra “número” hoje, mesmo se os Gregos não tinham a menor ideia do que era um número racional ou um número complexo. Frege tinha visto o problema; ele também dá o exemplo da palavra “inércia”. Aparentemente, pelo menos em muitas ocasiões, não entendemos o que dizemos literalmente, no sentido estrito que a palavra “dizer” tem na obra de Grice. Frege antecipou o problema que se tornou um tópico importante na filosofia das ciências nos anos 70: mudanças no significado dos termos teóricos X progressos científicos. Nos casos mencionados por Frege (“números”, “inércia”), o pior é que um conhecimento das convenções linguísticas atuais não ajuda muito, pois elas não revelam o Sinn na sua totalidade. Só as intuições ou insights de um cientista fora de série (como Einstein para o termo “gravitação”) podem apreender o Sinn de maneira mais completa e explicar o novo sentido (mais completo) para sua comunidade. A noção de um Sinn objetivo, a princípio, foi introduzida para explicar o sucesso da comunicação. Mas finalmente, o que temos de fato, são apreensões subjetivas que podem variar de um indivíduo para outro, de uma época para outra, e que só capturam uma parte do Sinn.
Mas nem tudo está perdido. Frege introduziu a noção de condições de verdade. Ao invés de conceber a compreensão linguística como a apreensão de um pensamento que subsista num terceiro reino platonista, podemos concebê-la como a construção de uma representação das condições que devem ser o caso se a frase compreendida é verdadeira. Tentarei mostrar como, a partir de nossos idioletos, podemos explicar o sucesso da comunicação sem precisar de um terceiro reino. Os únicos sentidos que tenho são aqueles associados às palavras que aprendi a usar. A cada palavra são associadas várias disposições. Quando ativadas, as disposições manifestam uma resposta, um núcleo de sentido que se ajusta à situação atual da fala. O valor semântico da palavra é quase sempre mais rico em contexto. O que é compreendido é o sentido ocasional ou as condições de verdade intuitivas, não um pensamento abstrato independente do contexto.
Entrada livre
Certificado de presença se requisitado
All Welcome